19.1.07

m o d i g l i a n i

Nu, Amedeo Modigliani
http://www.modigliani-amedeo.com

(Ouvindo Ode to innocence, Sasha Lazard)

“Quando eu conhecer tua alma, pinto teus olhos.”
Modigliani para Jeanne

Vi em Modigliani o cavalo. Não o cavalo nascido, não que ele tivesse na raiz o cavalo, nem no sentido eqüino, não. O cavalo em Modigliani vai mais pro relinchar de satisfação. O relincho sendo aquela manifestação moldável em si, a manifestação da vida simples, o relincho amoroso de exaltação, prazer, satisfação, gosto. E olha, a vida de Amedeo Modigliani foi cheia de desgostos. Daí a importância de se dizer: Modigliani, o homem que relinchava de prazer, de satisfação, de exaltação. Sobretudo na atitude de jogar tintas na palheta, misturá-las, escolher um pincel entre os muitos no copo sujo e alto, dar um gole na garrafa de tinto e, sem mais aquela, num soco não mudo mas espalhafatoso, assim, começar a pintura, e para que não lhe escapasse o sonho, o sonho por segundos nascido na idéia, o sonho que, por deus, não escapasse, oh vida de desgostos e rusgas, oh vida dura de Amedeo... por isso a rapidez com que lança o pincel na tela, para que lhe compreenda, lhe dê um colo esta tela muda, surda e branca, que se torne muito breve quase imediatamente a cúmplice do amor de Modi, do suor de Modi, da alegria, sim, da alegria!.... ponte diáfana entre o sim e o não, ponte esbodegada, e ainda ponte, entre a gota e a gota, entre o rito e o riso, oh, ponte de neve sobre as alegrias!!!! Galopa, então, o cavalo Amedeo Modigliani, galopa o puro sangue nunca domado Amedeo, galopa e salta sobre o vale profundo da agonia, e quanto precisa Modigliani, preciso, da mão mais rápida que o pensamento, do movimento mais veloz que o vento para lhe garantir uma pincelada a mais, quando – e só neste quando - o selvagem puro sangue relincha e não está acuado, mas sim revigorado na proeza do galope velocíssimo. Ave, Modigliani, o anjo da tristeza voa alto, para o além, se o cavalo selvagem expõe e compõe uma formosura, de formosuras mesmo engendrada, de formosuras mesmo cavada, de formosuras mesmo lavada, de formosuras mesmo erguida, de formosura, só dela, a beleza desta vida.

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