29.8.07

por que me descobriste no abandono?


suo embaixo dos braços no inverno de sete graus
eu suo baixando os degraus e desconfiando
desconfiando que de mim estão guardadas, por mim, as novidades?
mas que espécie de cara metade sou?
eu suo para onde vou
suo e sou
nos alinhavos de uma bainha que comecei, começo
e não canso
sempre me acontece
de pensar - ah, hoje, hoje, hoje!
olho fotografias e me descubro no abandono
eu não me esqueço, eu não me conheço?
oh, obrigada pelas lindas flores
oh, me irrito
oh, suo de aflita
oh, gravo a metade que sou
e as outras eu não largo, devagar,
caiu este amor aqui na minha mão.

25.8.07

gui-tar



às vezes eu me pergunto

por que sou tão deste lado

não faço do amor quase nada

nem fico sorrindo ao meu lado

pois eu me tenho toda hora

me como, me cuspo, me beijo

talvez eu não me entenda

mas hoje eu vou me mostrar...





raul, teus lábios de fel, tua boca dourada, tua pele infeliz


raul, tua pouca morada, teus cachos de uvas, por favor, me diz


que eu só tenho vertigens, só gasto fuligens e torço o nariz


e tu és muito dengoso, moroso, chistoso


e escreves com giz





(vou, vou, vou/vou fazer as malas/pegar esse trem/e comprar algumas balas)


22.8.07

fi(s)gada com queijo


São três horas da manhã/o bonde passou fiado/ouvi o grito de espera/acordei pra duvidar/não creio, não creio/são três horas da manhã/o grito me parte ao meio/sou grande sorriso e receio/numa esfera rumo ao mar/palavras de complicar/palavras tontas/são três horas da manhã/como figada/visto grosso casaco/vôo nos intervalos/a última vez que vi o bonde foi em 1967/três com dois não somam sete/espinhos na cama?