19.1.07

lá longe

Estava lá longe fazendo uma nova máscara de lágrimas misturada à lágrima verdadeira aos olhos molhados um pouco mais pra direita, mas não, ela não faz isso calculado, ela sofre de verdade, não é pra que tenham culpa e pena, mas agora nem ela acredita, os olhos molham e ela, longe, dizendo que isso é teatro, longe, longe, de meninos, de motocicletas, de teclas, de mesa branca, longe dos verdadeiramente molhados nos olhos, aqueles que sofrem de verdade, que não fazem o sofrimento mas vivem, ela não acredita que a si própria está desacreditando, molhando os olhos com intenções, pensa, de terceiras intenções vestida para machucar os outros, e dorme, dorme, dorme, lá longe, dorme de visita, de pestana aguada, faz palavras bonitas para que leiam, os que nunca lêem, mas um dia poderão, quando ela morta, então faz e corrige palavras porque fulano pode achar mal apanhado, repetitivo, sicrano pode dizer que ela foi uma riquinha travestida de sofredora, e os olhos estão baços, que ela acredite, lá longe, longe muito, por detrás, detrás é uma palavra literária, nem é mais, e pode ficar sendo, sendo, longe, as letras do teclado, as mais próximas dos dedos para fechar o cerco.

Um comentário:

Cinthya Verri disse...

O poeta é um finge-dor. Querida, não tem jeito: a tristeza é tão bonita... Mas tem tantas outras coisas bonitas que nem sei.